08 março 2010

Retaliação brasileira aos EUA será a 2ª maior da história

Dentro de um mês, 102 produtos importados dos Estados Unidos ficarão mais caros. O governo brasileiro divulgou nesta segunda-feira a lista autorizada pela Organização Mundial do Comércio (OMC). A OMC permitiu que o Brasil sobretaxe os produtos americanos em até US$ 829 milhões em retaliação cruzada - ou seja, não só bens como serviços e propriedade intelectual serão sobretaxados. É o segundo maior valor já autorizado pela organização.

A Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério do Desenvolvimento, estima que a retaliação apenas de bens será de, pelo menos, US$ 591 milhões. Os cálculos foram feitos com base na importação brasileira de 2008.

De acordo com Carlos Márcio Cozendey, diretor do departamento de política econômica do Itamaraty os produtos que vão sofrer aumento de impostos não representam uma grande proporção das importações brasileiras de produtos americanos.

"Evitamos sobretaxar produtos que não têm outros fornecedores que não os Estados Unidos e também produtos que o mercado brasileiro não consegue suprir. Esse período de 30 dias servirá, inclusive, para que os comerciantes tomem uma decisão e mudem seus importadores", explicou.

No caso dos celulares, por exemplo, a participação americana no mercado brasileiro, em 2008, foi apenas de 2%.

De acordo com a secretária-executiva da Câmara de Comércio Exterior, Lyhta Spíndola, o caso do trigo americano foi exceção em 2008. "Tivemos problemas com a exportação argentina e canadense e, dos US$ 374 milhões exportados em produtos agrícolas dos EUA, US$ 318 milhões foi apenas de trigo", destacou.

As sobretaxas vão valer por um período de um ano. Neste tempo, os EUA podem apresentar contraproposta ou aceitar as condições impostas pela OMC - diminuir os incentivos domésticos dados a produtores de algodão do país e garantir o acesso de produtos de outras nações ao mercado americano. Se nada acontecer nesse período, as medidas continuarão em vigor.

Lytha destacou que o Brasil não era favorável à retaliação. "Esse é um desafio muito grande para países que têm o direito de aplicar sanções. Nós sempre estivemos aberto a negociações, mas depois de oito anos de litígio e sem resposta dos EUA, não havia mais opções para o Brasil", argumentou.

A OMC autorizou o Brasil a aumentar os impostos sobre produtos americanos em até 100 pontos percentuais. A maior parte desses produtos, no entanto, tiveram as alíquotas dobradas. Foi o caso do paracetamol, que passou de 14% para 28%.



Luciana Cobucci
Direto de Brasília
Especial para o Terra

Pelo menos 500 morrem em massacre étnico na Nigéria

Islâmicos da etnia fulani invadiram casas de mataram todos que encontraram, incluindo mulheres e crianças


JOS - O confronto étnico-religioso ocorrido no domingo perto de Jos, no norte da Nigéria, deixou pelo menos 500 mortos, informou nesta segunda-feira, 8, o porta-voz do governo do estado de Plateau, Gregory Yenlong.

Armados com revólveres, metralhadoras e machados, pastores da etnia fulani invadiram as casas das cidades de Dogo Na Hauwa, Ratsat e Jeji no domingo e mataram todos que encontraram pela frente, incluindo mulheres e crianças.

"Nós conseguimos fazer 95 prisões, mas ao mesmo tempo mais de 500 pessoas foram mortas nesse abominável ato", afirmou o nigeriano Dan Manjang, por telefone.

Acredita-se que o massacre, ocorrido a menos de 2 quilômetros da casa do governador de Plateau, Jonah Jang, tenha sido a resposta dos pastores aos confrontos religiosos de janeiro passado, que deixaram 326 mortos. Na ocasião, o incidente foi considerado pelos membros da etnia fulani uma ação organizada para assassinar muçulmanos.

O governo de Plateau anunciou um funeral coletivo para as vítimas. O presidente interino da Nigéria, Goodluck Jonathan, se reuniu com as agências de segurança do Estado e afirmou que os soldados estão em alerta vermelho. O massacre aconteceu mesmo com a imposição de um toque de recolher, que vigora na região das 18h às 6h desde janeiro passado.

Acredita-se que o motivo dos enfrentamentos na região seja a luta pela exploração de terras de cultivo entre cristãos e animistas, de um lado, e pastores muçulmanos fulanis, do outro.

Os conflitos envolvendo cristãos e muçulmanos na Nigéria já deixaram mais de 12 mil mortos desde 1999, quando foi implantada a sharia (lei islâmica) em 12 estados do norte do país.


Fonte: Estadão